O diagnóstico de infertilidade é muitas vezes pega o casal de surpresa. A sequência clássica de namoro, noivado, casamento e ter filhos pode não acontecer da forma como imaginamos. Os casais com dificuldade para engravidar devem, primeiramente, ter um diagnóstico correto e rigoroso para poderem decidir em conjunto com o médico qual é o tratamento mais adequado para o momento.
Muitos casais passam por diversas clínicas antes e depois de fazerem algum tratamento. Busque sempre uma equipe que lhe traga confiança, transparência e muita ética em todas as etapas, desde a marcação da consulta até o resultado. Escolha um médico com quem se sinta à vontade, que lhe traga o que há de melhor em Medicina Reprodutiva. Entenda o tratamento, pergunte quando tem dúvidas. E durante todo o processo, mantenha-se sempre positiva. Este é um passo importante para seu bem-estar e para o sucesso.
CICLO MENSTRUAL E GESTAÇÃO ESPONTÂNEA
O ciclo menstrual é um período em que ocorre o desenvolvimento e liberação de um óvulo maduro para ser fertilizado por um espermatozoide na tuba uterina, enquanto o endométrio (camada mais interna do útero) é preparado pelos hormônios produzidos nos ovários, para receber e nutrir o embrião formado após a fecundação. Os hormônios liberados pelo hipotálamo (sistema nervoso central), hipófise (glândula próxima ao cérebro) e ovários devem estar em perfeito equilíbrio para ocorrer a gravidez.
O início do ciclo menstrual é marcado pela menstruação. É comum a mulher notar um sangramento escuro, em “borra de café”, no primeiro dia e, logo em seguida, o fluxo mais intenso. O sangramento pode durar até 7 dias e o volume não passa de 80 mL. O intervalo do ciclo é de 25 a 35 dias. Se você tem alterações nesses valores, é interessante investigar com seu ginecologista se há algum distúrbio para ser tratado, como adenomiose, pólipo endometrial ou mioma.
Podemos dividir o ciclo em 3 fases, de acordo com os padrões dos ovários, endométrio e hormônios, respectivamente:
1) Fase folicular, proliferativa ou estrogênica:
Período do 1º ao 13º dia, em mulheres com ciclos de 28 dias.
A hipófise secreta FSH (hormônio folículo estimulante), que estimula o desenvolvimento de um folículo ovariano, uma pequena estrutura de células que contém líquido e um óvulo no interior. Assim, o folículo cresce até cerca de 2 cm e responde produzindo estradiol, que faz o endométrio crescer e produz as mudanças do muco cervical. Isso facilita a entrada dos espermatozoides, mantendo-os vivos e móveis para subir em direção ao óvulo.
2) Fase ovulatória
Cerca de 14 dias antes do início do próximo ciclo.
Quando o estradiol produzido pelo folículo dominante sobe, a hipófise secreta LH (hormônio luteinizante), promove o rompimento do folículo, liberando o óvulo maduro, que fica próximo à superfície do ovário. Esta é a ovulação. A partir daí, a tuba uterina entra em ação: as fímbrias, delicadas projeções que parecem tentáculos, ajudam o óvulo a entrar no interior da tuba, local aonde os espermatozoides devem chegar para ocorrer a fertilização (fecundação). A chance de engravidar é maior quando o casal tem relações sexuais pouco antes ou durante a ovulação. Para determinar esse período, calcule quantos dias dura o seu ciclo e subtraia 14 dias. Esse é o provável dia da sua ovulação. Assim, uma mulher com ciclos de 28 dias deve ovular no 14º dia; aquelas com ciclos de 30 dias devem ovular por volta do 16º dia. E lembre-se: os dias mais férteis são os seis que antecedem a ovulação, e não depois dela.
3) Fase lútea, secretória ou progestagênica
Do 15º ao 28º dia, em mulheres com ciclos de 28 dias.
Após a ovulação, o folículo dominante sofre uma série de alterações, formando o corpo lúteo. O corpo lúteo produz a progesterona, hormônio fundamental para preparar o endométrio e deixá-lo receptivo ao embrião que deve chegar nos próximos dias.
Quando não ocorre a formação do embrião, não ocorre a implantação no endométrio e o corpo lúteo para de produzir a progesterona, fazendo com que o endométrio descame junto com sangue. Esta é a menstruação, um sinal de que não houve gravidez e que o ciclo menstrual está regular.
Quando a mulher engravida, dois eventos são fundamentais:
• Fertilização
Quando o casal tem relações no período fértil, os espermatozoides passam pelo colo do útero com a ajuda do muco cervical, “nadando” em direção às tubas uterinas, onde devem encontrar o óvulo liberado pelo folículo dominante. No sêmen ejaculado, existem milhões de espermatozoides, mas muitos não sobrevivem no trajeto e algumas centenas chegam ao óvulo, sendo que apenas um penetra a zona pelúcida (camada externa) e faz a fertilização. O interessante é que esse período é muito curto, pois o óvulo tem apenas 24 horas para ser fertilizado após a ovulação.
• Implantação
Após a fertilização, o embrião é formado e a tuba deve transportá-lo ao endométrio. Neste trajeto que dura 5 dias, o embrião se divide em várias células e chega ao útero numa fase conhecida como blastocisto, quando infiltra o endométrio e começa a produzir as células que vão formar a placenta. Estas células produzem o βhCG (gonadotrofina coriônica humana), que pode ser detectado por testes de gravidez. Este hormônio mantém o corpo lúteo produzindo a progesterona, que ajuda a manter a gestação.
Percebemos então que a concepção não é tão fácil como imaginamos e cerca de 15% dos casais podem ter dificuldades para engravidar naturalmente. Às vezes, uma avaliação de um especialista com orientação para os dias mais férteis é o suficiente para a mulher engravidar.
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O QUE É INFERTILIDADE E QUANDO PROCURAR UM ESPECIALISTA?
Se você possui menos que 35 anos e relações sexuais frequentes ( 2 a 3 vezes por semana) por 12 meses e não engravidou, ou se possui mais que 35 anos e pelo menos 6 meses de tentativas, provavelmente deve buscar ajuda médica. O objetivo do diagnóstico da infertilidade não é apenas para fazer algum tratamento, mas também para determinar as causas e doenças que estão por trás.
Vale ressaltar que a infertilidade não é da mulher ou do homem: é do casal. Isso porque a concepção depende tanto de fatores femininos quanto masculinos. E por isso chamamos de infertilidade conjugal, mesmo quando um ou ambos têm filhos de outros relacionamentos.
COMO SERÁ NOSSO PRIMEIRO ENCONTRO
Durante a 1ª consulta, o médico dedicará tempo para analisar todos os dados detalhados da história do paciente ou do casal, além de realizar uma ultrassonografia transvaginal ou pélvica e revisar todos os exames previamente realizados. Esta é uma boa oportunidade para esclarecer todas as dúvidas do casal e desenhar o plano diagnóstico e terapêutico, com eficácia e sem perda de tempo.
Caso o casal já tenha diagnósticos bem estabelecidos e todos os exames realizados, já é possível discutir as opções de tratamento.
Recomendamos que o parceiro também vá à consulta, mas não é obrigatório. Quando presente, a consulta se torna mais esclarecedora, pois ambos podem ter dúvidas distintas.
O casal ou paciente deve compreender e se sentir confortável com o tratamento proposto e entendemos que isto é tão importante quanto o desenvolvimento do tratamento individualizado. As taxas de sucesso são expostas de forma transparente, para que o casal decida em conjunto com o médico qual é a melhor opção.
EXAMES REALIZADOS
Em conjunto com a história clínica e exame físico, os exames diagnósticos são importantes para avaliar a anatomia e função dos órgãos do sistema reprodutivo feminino e masculino.
A constante melhora da tecnologia e métodos diagnósticos tem mudado a medicina, aumentando a acurácia (capacidade de acerto do teste) e, principalmente, incrementando as taxas de sucesso dos casais em tratamento de infertilidade.
Esta eficiência dos exames auxilia os médicos e casais a determinarem o melhor plano possível para conseguirem de forma segura alcançarem o objetivo maior: um bebê saudável em casa. Os exames são solicitados de acordo com as indicações individualizadas.
Veja alguns exames:
FSH, LH e Estradiol: colhidos no início do ciclo menstrual (2º ou 3º dia), são importantes para estimar a reserva ovariana (quantidade e qualidade dos óvulos) e o equilíbrio hormonal.
Hormônio Anti-Mülleriano: produzido por células da granulosa de folículos antrais e pré-antrais nos ovários. Quanto mais baixo, menor é a reserva ovariana. É um sinal de alerta sobre como está sua reserva ovariana e como você poderá responder ao tratamento.
Prolactina: hormônio produzido na hipófise (pequena glândula no sistema nervoso central) que, quando elevada, pode causar saída de leite pelas mamas e alterações ovulatórias.
TSH e T4 livre: expressam a função da tireoide; quando alterados, podem ser decorrentes de hipo ou hipertireoidismo, causas de alterações menstruais.
CA-125: marcador tumoral que pode estar elevado em mulheres com endometriose.
Histerossalpingografia: é a ainda o método mais utilizado para avaliar a permeabilidade tubária. É uma radiografia da pelve, em que é injetado um contraste iodado hidrossolúvel pelo colo do útero e são realizadas imagens sequenciais para determinar se o contraste passa pelas tubas ou se há alterações no trajeto. Conhecido como um exame doloroso, se realizado por um radiologista treinado, cuidadoso e com contraste aquecido à temperatura do corpo, é um exame pouco desconfortável.
Histeroscopia diagnóstica: é o melhor exame para avaliar a cavidade uterina, sendo indicada para mulheres com suspeita de alterações endometriais, como endometrite, espessamentos, sangramento uterino anormal, malformações uterinas e falhas de implantação.
Ultrassonografia transvaginal: avalia o colo, posição e tamanho do útero, miométrio (parede muscular uterina), endométrio (camada interna), presença de lesões de endometriose, posição e tamanho dos ovários e contagem de folículos antrais (quantidade de folículos de 2 a 10 mm). É uma ferramenta importantíssima para a avaliação da infertilidade e acompanhamento dos tratamentos.
Espermograma: é o principal exame para o homem. Trata-se da análise do sêmen colhido normalmente por masturbação, após 2 a 5 dias de abstinência sexual. Primeiramente, é feita a avaliação do volume, pH, viscosidade, cor e liquefação do sêmen. Depois, determina-se a concentração de espermatozoides por mL e a motilidade deles, ou seja, como eles se movimentam. A contagem do número de espermatozoides e a avaliação da motilidade são realizadas no microscópio, com auxílio de câmaras especiais. Outro parâmetro é espermograma a morfologia (formato) dos espermatozóides e a determinação do número de leucócitos presentes no sêmen. O exame deve ser realizado em laboratório que utiliza as normas e parâmetros da Organização Mundial de Saúde, modificadas em 2010. É comum vermos exames malfeitos, com metodologias e tecnologias desatualizadas, o que compromete os resultados e até o tratamento proposto. Alguns homens fazem vários testes em laboratórios distintos, com resultados completamente diferentes. Por isso, pergunte ao seu médico onde deve realizar o espermograma.
Outros exames podem ser solicitados de acordo com as características clínicas e tratamentos:
Pesquisa de trombofilias e alterações autoimunes: anti-tireoglobulina, anti-TPO, homocisteína, anticoagulante lúpico, anticardiolipinas, Fator V Leidein, pesquisa de mutação do gene da protrombina, pesquisa da mutação do gene da metilenotetraidrofolato redutase, proteína C , proteína S livre e funcional, anti-trombina III, entre outros.
Cariótipo: exame que determina o número de cromossomos e se há alterações como translocações e desbalanços genéticos.
Dosagem da vitamina D: estudos recentes mostraram que casais inférteis tem maior risco de falta desta vitamina e que ela pode auxiliar na fertilidade.
Índice de fragmentação do DNA espermático: determina uma porcentagem de DNA fragmentado na amostra seminal. Quando elevado, o homem pode se beneficiar de medicamentos antioxidantes para melhorar a qualidade do sêmen e aumentar as taxas de gravidez em tratamentos como Fertilização in vitro.
Ultrassonografia de bolsa testicular: determina o volume e textura dos testículos, condição dos epidídimos, além de avaliar se existem dilatações das veias testiculares, doença conhecida como varicocele.
Ressonância magnética da pelve e Ultrassonografia transvaginal com preparo intestinal: destinado a pacientes com suspeita de endometriose. São excelentes exames de imagem que nos dizem quantas lesões existem, onde elas se encontram e a relação entre os órgãos, facilitando o planejamento clínico e cirúrgico.
Sorologias: HIV, HTLV, sífilis, hepatite B e C, rubéola, toxoplasmose etc. São exames obrigatórios antes de tratamentos de Reprodução Assistida como inseminação intrauterina e fertilização in vitro.
IDADE E FERTILIDADE
A idade interfere diretamente na fertilidade, principalmente das mulheres. Acima dos 35 anos, a chance de engravidar diminui consideravelmente. Isso porque a mulher já nasce com uma quantidade de óvulos limitada que diminuem em quantidade e qualidade ao longo da vida.
Para os homens, os espermatozoides se renovam constantemente, mas há uma queda na qualidade seminal, principalmente após 47 anos.
COMO AUMENTAR SUAS CHANCES?
1. FREQUÊNCIA DAS RELAÇÕES SEXUAIS: Existe um conceito errado que se deve aumentar o tempo entre as relações para aumentar a concentração de espermatozoides. MITO. O ideal é ter relação a cada dois dias, para melhorar a concentração e movimentação dos espermatozoides! Nada impede que se tenha relações diárias também. O importante é que esse intervalo de relações não gere estresse, que pode prejudicar o casal.
2. PERÍODO FÉRTIL Ter relações até três dias antes ou logo após a ovulação é o ideal. Difícil é estabelecer o período fértil de cada mulher.
Para mulheres com intervalos entre ciclos regulares, fica um pouco mais fácil. Isso porque e a fase lútea, que ocorre após a ovulação geralmente é fixa e dura 14 dias. O que pode variar é a duração da fase folicular – crescimento dos folículos e início do período fértil.
Para mulheres com ciclos de 28 dias, a ovulação ocorre, na maioria das vezes, no 14º dia. Assim o período fértil se inicia cerca de 5 dias antes da ovulação, sendo o dia mais fértil aquele 2 dias antes da ovulação. Para mulheres com intervalos mais curtos, inicia-se antes. Para mulheres com ciclo mais longo, inicia-se depois. Mas ter relação a cada dois dias durante o período fértil aumenta as chances de engravidar.
Algumas mulheres são capazes de identificar mudanças no humor, no muco cervical (parecido com uma clara de ovo) e apresentam a “dor do meio”, sinais de ovulação.
Dentre os métodos para se verificar a ovulação, o melhor é o muco cervical: mais barato e prático. Principalmente quando se percebe um muco claro ou transparente, mais escorregadio.
As fitas de LH, que se compra em farmácia, têm se tornado grande aliada das mulheres tentantes. Mas, cerca de 10% do teste pode dar um resultado falso positivo, ou seja, a mulher não teve um pico de LH, podendo subestimar o período fértil.
A temperatura basal também pode ser realizada, mas entre os métodos, é o que mostrou piores resultados de gravidez.
O QUE FAZER E O QUE NÃO FAZER QUANDO A IDÉIA É ENGRAVIDAR
A ovulação pode ser prejudicada em mulheres acima ou abaixo do peso, inclusive em mulheres com perda ou ganho de peso muito rápida. Algumas medidas podem ser tomadas, especialmente uma dieta saudável:
• evitar gordura trans;
• preferir alimentos orgânicos ao invés de industrializados;
• aumentar a ingestão de óleos vegetais insaturados;
• aumentar a ingestão de proteína de origem vegetal;
• comer carboidratos de absorção lenta (integrais);
• abusar de vegetais que contenham ferro e antioxidantes.
Além disso, a ingestão de METILFOLATO é essencial para evitar malformação do tubo neural do feto.
O cigarro está relacionado a diminuição da reserva ovariana e maiores taxas de abortamento, assim como pode ser prejudicial na qualidade do sêmen. Ideal: cessar tabagismo!
O álcool, se consumido com moderação – uma dose por dia – não parece ter interferência na fertilidade. Mas deve ser cessado durante a gestação pelo risco de malformação fetal.
Uso de cafeína moderado – uma ou duas doses por dia, não tem interferência na fertilidade. Isso corresponde a duas xícaras de café ou um expresso por dia.
Drogas como maconha por exemplo, podem piorar a fertilidade masculina e feminina. Estudos recentes mostram que usuárias de maconha de uma a três vezes por mês podem ter atraso de até quatro dias na ovulação. E para os homens, prejudica a qualidade seminal.
FATORES MASCULINOS DE INFERTILIDADE

O bom funcionamento do sistema reprodutivo masculino depende do funcionamento adequado do hipotálamo, hipófise, testículos e ductos transportadores dos espermatozoides. Analisamos a fertilidade masculina através o espermograma, exame que determina a quantidade e qualidade dos espermatozoides.
Para fecundar um óvulo, o sêmen deve conter uma boa quantidade de espermatozoides com motilidade (capacidade de movimentação) e morfologia (formato) adequadas. Se há poucos espermatozoides (oligozoospermia), eles não chegam em número suficiente nas tubas para fertilizar o óvulo. Quando a motilidade é baixa (astenozoospermia), os espermatozoides não conseguem se movimentar em direção correta para encontrar o óvulo. E se o formato não for ideal, não ocorre fertilização, já que ele deve penetrar a zona pelúcida do óvulo, uma camada externa gelatinosa que serve como uma proteção.
A infertilidade masculina tem diversas causas e, para facilitar, podemos dividi-las em 4 grupos:
1.Distúrbios do hipotálamo e/ou hipófise: 1-2%
Semelhante à mulher (ver ciclo menstrual), o hipotálamo (estrutura do sistema nervoso central) secreta o GnRH, hormônio responsável por estimular a hipófise para secretar FSH (hormônio folículo-estimulante) e LH (hormônio luteinizante).
O FSH estimula as células de Sertoli dos testículos a produzirem os espermatozoides, enquanto o LH sinaliza as células de Leydig dos testículos a produzirem testosterona.
Assim, alterações tanto no hipotálamo quanto na hipófise podem causar alterações na produção de espermatozoides devido à estimulação hormonal inadequada. Essa condição é conhecida como hipogonadismo hipogonadotrófico.
As principais são:
• Uso de anabolizantes
• Uso de corticoides e opióides
• Obesidade
• Hiperprolactinemia
• Tumores de hipotálamo e hipófise (ex: craniofaringioma, macroadenoma)
• Síndrome de Kallmann
• Mutações genéticas raras
• Uso de análogos do GnRH (ex: tratamento do câncer de próstata)
Nesses casos, os níveis de FSH, LH e testosterona estão baixos.
2.Distúrbios testiculares: 30-40%
Muitas vezes a causa pode estar nos testículos, devido a uma falência testicular primária. Isso é conhecido como hipergonadismo hipogonadotrófico, sendo a principal causa de oligozoospermia grave e azoospermia (ausência de espermatozoides), podendo ter origem congênita ou adquirida ao longo da vida:
• Varicocele: dilatação das veias testiculares, sendo a principal causa de infertilidade masculina, afetando cerca de 30% dos homens inférteis. A varicocele causa alteração no sêmen devido ao aumento da temperatura local e à lentidão na remoção de substâncias tóxicas locais.
• Infecções testiculares: clamídia, gonorreia e caxumba podem causar inflamação nos testículos e danos importantes.
• Síndrome de Klinefelter: o homem tem cariótipo alterado, com um cromossomo X extra (47,XXY), resultando em testículos pequenos devido ao dano nos túbulos seminíferos e células de Leydig. Está associado a criptorquidia.
• Microdeleção do cromossomo Y: falhas em regiões do braço longo do cromossomo Y, conhecidas como AZFa, AZFb e AZFc, podem causar alterações graves do sêmen, como azoospermia (principalmente AZFa e AZFb). O homem portador desta deleção deve ser aconselhado por um especialista, já que o cromossomo Y é transmitido aos filhos do sexo masculino, podendo causar a mesma alteração na prole.
• Criptorquidia: situação em que os testículos não descem para a bolsa testicular durante o desenvolvimento fetal. A temperatura intra-abdominal elevada danifica os testículos e quanto maior o tempo fora da bolsa, as consequências podem ser mais graves.
• Drogas: maconha e cocaína prejudicam a qualidade seminal.
• Substâncias tóxicas: solventes e pesticidas.
• Tabagismo e etilismo: reduzem a qualidade dos espermatozoides e os níveis de testosterona.
3.Distúrbios no transporte do sêmen: 10-20%
Muitas vezes a produção de espermatozoides está normal, mas a saída do sêmen pode estar prejudicada devido a obstruções e disfunções:
• Ausência congênita bilateral dos ductos deferentes promovem o transporte dos espermatozoides dos testículos para a via de saída, passando pelas vesículas seminais e próstata. Cerca de 2% dos homens inférteis nascem sem esses ductos, causando azoospermia. A maioria desses homens são portadores de mutação no gene da fibrose cística (CFTR), apesar de não apresentarem sintomas da doença, como as alterações pulmonares e pancreáticas. O diagnóstico da CBAVD é clínico e a investigação da mutação do CFTR deve ser feita na parceira, para evitar o risco de transmissão da fibrose cística para os filhos.
• Disfunção ejaculatória: principalmente quando decorrente de lesão de medula espinhal por traumas ou doenças como diabetes descontrolada.
• Vasectomia: causa frequente de azoospermia.
• Infecções: clamídia, gonorreia e outras bactérias podem causar inflamações e obstruções no trajeto do sêmen.
• Cirurgias testiculares
• Traumas testiculares
4.Idiopática (sem causa identificada): 40-50%
Mesmo após os diversos exames para investigação, a causa da infertilidade masculina não é identificada em cerca de 40-50% dos casos.
FATORES FEMININOS DE INFERTILIDADE

1.Idade materna avançada e baixa reserva ovariana: a fertilidade na mulher cai a partir dos 32 anos e, de forma mais acentuada, a partir dos 37 anos. A qualidade e quantidade de óvulos se reduzem ao longo dos anos, aumentando o risco de malformações e abortamento espontâneo. A chance de gravidez em cada ciclo (mês) é de 20% aos 30 anos. Esta taxa cai para cerca de 5% quando a mulher tem 40 anos.
2.Disfunção ovulatória: conhecida como anovulação crônica (ausência de ovulação), é uma das consequências da Síndrome de Ovários Policísticos, em que não ocorre o fenômeno de dominância folicular e ovulação. Assim, os óvulos não são liberados pelos ovários, impossibilitando a fecundação pelos espermatozoides. Em algumas mulheres a ovulação ocorre, mas em períodos longos, a cada 2 ou 3 meses, sendo difícil determinar o período fértil. Outros distúrbios endocrinológicos podem causar anovulação: hiperprolactinemia (aumento da prolactina); hipo ou hipertireoidismo; amenorreia hipotalâmica decorrente de estresse, exercícios físicos intensos, perda ou ganho de peso acelerado, entre outros.
Alterações das tubas uterinas: é uma das principais causas de infertilidade. Infecções pélvicas por clamídia (Chlamydia trachomatis) ou gonococo (Neisseria gonorrhoeae), apendicite aguda supurada, cirurgias abdominais e endometriose podem causar inflamações nas tubas, modificando a estrutura e função das trompas e dificultando o transporte dos gametas e embriões. É comum encontrarmos dilatações e coleção de líquido nas tubas obstruídas, as chamadas hidrossalpinges. As alterações tubárias aumentam o risco de gestação ectópica e podem necessitar de tratamento cirúrgico, como a laparoscopia.
Endometriose: é uma doença em que o tecido que reveste internamente o útero (endométrio) é encontrado fora da cavidade uterina, causando lesões endometrióticas em órgãos da pelve e abdome, principalmente. Estima-se que 10% das mulheres em idade reprodutiva tenham endometriose e essa prevalência é até 5 vezes mais elevada na população infértil. A relação entre endometriose e infertilidade compreende vários aspectos, desde obstruções e alterações tubárias causadas pelos focos de endometriose, redução da qualidade dos óvulos e potencial de fertilização, até o aumento do risco de abortamento, cerca de 2 vezes maior nessas mulheres. Os sintomas incluem cólicas menstruais fortes, dor durante as relações sexuais, sintomas intestinais e urinários cíclicos (durante a menstruação).
Adenomiose: ocorre quando os focos de endométrio infiltram a camada muscular do útero (miométrio), causando cólicas e aumento do fluxo menstrual.
Alterações uterinas: miomas, pólipos, septos e sinéquias (aderências endometriais) podem reduzir a cavidade uterina ou comprometer a receptividade endometrial, dificultando a fixação do embrião no útero.
Fatores imunológicos: apesar de controverso, alguns pesquisadores acreditam que a imunidade materna deve estar em equilíbrio para não “atacar” o embrião dentro do útero, já que 50% do material genético é de outra pessoa (parceiro). Existem diversas teorias e classificações, como a falta de produção de anticorpos bloqueadores para a gravidez, a presença de anticorpos antiespermatozoides ou contra o fosfolípide fosfatidiletanolamina e o aumento da atividade das células NK (natural killer) no endométrio.
Trombofilias: condições congênitas ou adquiridas que aumentam o risco de trombose e comprometer o suprimento sanguíneo para o embrião, causando abortamentos de repetição.
Em cerca de 10% dos casais a causa da infertilidade não é definida, o que é conhecido como infertilidade sem causa aparente (ISCA). Nesses casos, a idade da mulher e o tempo de infertilidade são fatores determinantes para a escolha do melhor tratamento: inseminação intrauterina ou fertilização in vitro.